Seminário no Rio de Janeiro promoveu a
discussão do tema
No dia 16 de maio de 2016 o Rio de
Janeiro foi palco de uma experiência que já vem acontecendo na Holanda e em
outros países europeus, o seminário SMART
CITIZENS, RESILIENT CITIES (“Cidades Resilientes, Cidadãos Inteligentes”).
O evento colocou em pauta a discussão de assuntos pouco discutidos ainda no
Brasil, principalmente, o poder da palavra resiliente.
Resiliência é a capacidade de retornar a um estado de equilíbrio após uma
situação de crise, esse contexto pode ser aplicado a diversas questões, como a
ambiental, econômica, social, entre outros.
Cidades Resilientes, Cidadãos Inteligentes |
Neste semestre, a Holanda está na
presidência da União Europeia e o consulado tem presenteado os cariocas e
fluminenses com algumas ações que geram a troca de experiências. O encontro
entre gestores, diplomatas, curiosos e estudiosos de várias nacionalidades
aconteceu no IED – Instituto Europeo di
Design, localizado no antigo prédio do Cassino da Urca. Não podiam ter
escolhido um cenário melhor para a discussão do tema.
Instituto Europeo di Design |
A criação do programa para este evento
foi uma parceria do IED (BR) e da Waag
Society (NL) e a colaboração do Consulado da Holanda no Rio de Janeiro e da
Prefeitura do Rio.
O Consulado holandês e o Dutch Culture
(NL) foram os financiadores e receberam contribuições adicionais do IED,
do Olabi , da FGV-DAPP e da Swissnex.
O seminário:
O objetivo da realização seminário foi
de oferecer demonstrativo, através da troca de experiências e visões de vários
países e cidades. O empoderamento do cidadão é fundamental para dar-lhe
as ferramentas necessárias e viabilizar a
interação com gestores da área social, ambiental e, principalmente, política.
Essa é a base para um processo construtivo de tomada de decisão política de
caráter inclusivo, que contribui para o desenvolvimento sustentável.
Representantes da Holanda, Brasil,
Suíça e Portugal apresentaram a visão de seus países sobre a importância de
cidadãos habilitados para a construção de cidades resilientes.
Na mensagem de boas vindas, o
cônsul-geral da Holanda, Arjen Uijterlinde, destacou a importância da Holanda
estar na presidência de União Europeia e usar esse momento para se conectar com
o Rio: “este é um tema abrangente e global. A cidade do Rio de Janeiro precisa
aprender a lidar com a resiliência e o cidadão é fundamental nesse processo”,
destacou o cônsul-geral.
Consul-geral Arjer Uijterlinde |
Em seguida, Han Peters, embaixador da
Holanda no Brasil destacou o quanto a tecnologia é importante no processo e
contou uma história para os presentes: “Há 30 anos comprei o meu primeiro
computador com o qual jogava xadrez, me lembro de que esperava 10 minutos para
o reinício de uma jogada. Hoje, temos a tecnologia nas palmas das mãos e
podemos nos tornar cidadãos inteligentes”, ressalta o embaixador.
Para Claudia Gintersdorfer,
Ministra-Conselheira da UE para o Brasil, o tema escolhido é muito importante:
“É um tema inspirador que mostra que nem sempre o mais forte vence e o mais
fraco perde. Vencem aqueles que se adaptam” e ainda completa “mudar os hábitos
é um importante desafio para o futuro”. A União Europeia apoia a energia
sustentável e a redução de CO2 na Europa. Compromete-se também com a
tecnologia compartilhada e no Brasil já surgem projetos inteligentes como os
painéis solares em Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e Sorocaba (SP). Em
2017, novas cidades estarão no projeto. E no final, ela alerta, principalmente
o Brasil, para variações climáticas e a necessidade de se programar para o que
pode acontecer devido aos maus tempos.
Para encerrar a abertura, Pedro
Junqueira, do Centro de Operações do Rio de Janeiro, apontou que os movimentos
climáticos na cidade carioca são uma preocupação. Destacou que o termo
resiliente é novo e que surgiu na prefeitura entre 2013 e 2014. E colocou: “o
comportamento das pessoas influencia a resiliência e todos podem ajudar a
todos”.
O seminário foi dividido em quatro
painéis.
Primeiro Painel – Políticas:
Foi apresentado pelo holandês Frank
Kresin, Diretor de Pesquisa, Waag Society.
Frank kresin, Pieter, Consul, Fabio Palma |
Pedro Junqueira voltou para apresentar
o quanto a cidade do Rio de Janeiro está avançada na resiliência. A
centralização das soluções facilita na rapidez para se resolver problemas
urbanos. Sejam eles acidentes, falta de luz ou tubulação estourada, por
exemplo. Lembrou que, no começo, houve uma resistência das empresas em
trabalharem juntas para as soluções, mas que, passados cinco anos e meio, os resultados
são positivos. “Hoje, conseguimos monitorar a cidade inteira através dos
avanços tecnológicos e das experiências com a logística da Copa de 2014”, conta
Pedro. A resiliência é pensar no futuro das cidades. É preparar para as
alterações climáticas, controlar a violência, organizar o caos do trânsito, o
abastecimento de água e, principalmente, o empoderamento dos cidadãos.
Estimular as alianças sociais e economia circular para um futuro melhor.
A próxima a ter a palavra foi Tina
Billeter. A suíça é consultora de sustentabilidade e membro do serviço
ambiental e de proteção à saúde da cidade de Zurique. A consultora contou que a
cidade de Zurique tem 500 mil habitantes, o que se pode comparar a Niterói, e
segue um modelo completamente sustentável: “Há um monitoramento do ar, do som e
da água quatro vezes ao ano”. Ela apresentou o projeto “Sociedade 2000 Watts”,
cuja meta é realizar somente esse consumo de energia, por pessoa, até 2030.
Hoje, cada pessoa consome em torno de 5000 watts. Tina acredita que a mudança
sustentável é possível. “Devemos respeitar a sazonalidade dos alimentos e
consumi-los na época correta”, ressalta. Podemos viver com menos coisas e
compartilhar mais, além de consertar aquilo que se quebra e não jogar no
lixo.
A experiência de Portugal foi
compartilhada por Catarina Selada, chefe do departamento de cidades na INTELI
Innovation Centre. Em Portugal, a maioria das prefeituras colabora com a
resiliência e lidera os movimentos para o futuro. Catarina conta que: “Há
cidades que usam seus espaços para testarem a resiliência e compartilham as
experiências e resultados”. Os carros elétricos já são uma realidade e já há
projetos em conjunto com a cidade de Curitiba, no sul do Brasil.
Frank Kresin retorna para apresentar um
pouco da realidade sustentável de Amsterdã. O plano é que, até 2020, a
qualidade de vida fique bem melhor. A população começa a perceber a necessidade
da reciclagem do lixo doméstico, de diminuir a poluição e das estratégias
coletivas. Compartilhar ideias e soluções se tornou o foco: “Usamos os
quatro “I”: Inovação, Inspiração, Interatividade e integração, e tem dado muito
certo”, conclui.
Segundo Painel – Cidades Resilientes:
Luciana Nery abriu e moderou o segundo
assunto do dia. Ela é Gerente de Resiliência do Centro de Operações do Rio.
Painel 2 - Mark,Vand der Net Marco Contardi, Ricardo Ruiz, Clarisse Linke e Luciana Nery |
O pernambucano Ricardo Ruiz tomou a
palavra e apresentou o projeto que coordena, chamado InCiti. O projeto tem como
objetivo catalisar conhecimentos e conceber soluções colaborativas para
constituir cidades inclusivas, sustentáveis e felizes. Entre os projetos se
destacam: Cidades Sensitivas, que discutem com a sociedade a utilização dos
espaços públicos como locais de expressão, dinâmicas sociais e experimentação
das políticas publicas. O desdobramento deste projeto se chama LabCeus – Laboratório
das Cidades Sensitivas usando a tecnologias em espaços públicos. Os outros
projetos são o Parque do Capibaribe, a Face Noturna da Cidade e Espaço Contra o
Crime.
A mobilidade sustentável foi o assunto
abordado por Clarisse Linke, do Instituto de Transporte e Política de
Desenvolvimento Brasil. Ela aponta os desafios da mobilidade, principalmente
nas cidades da América Latina e da África. Os grandes deslocamentos nos centros
urbanos, de casa até o trabalho: “No Rio de Janeiro, quando chove, boa parte
das pessoas falta ao trabalho, pois a logística ruim do transporte e as
condições não permitem longos trajetos nesses dias. E a maioria não tem
dinheiro para o taxi, destaca”. E, com isso, cai a produtividade e a qualidade
de vida.
Mark Van der Net, holandês , apresentou
o projeto OSCity. Conectar as pessoas é o fundamental: “As cidades precisam ser
menos técnicas e se construir a partir do desejo das pessoas”, conta Mark. O
uso da tecnologia e das redes sociais é importante, e o fundamental é a convivência
das pessoas.
O italiano Marco Contardi, da FGV
Projetos, trouxe para a discussão “como podemos nos transformar?” E apontou
pontos importantes: Qual seria o real papel do setor público? Como compor setor
público e privado com a sociedade? A necessidade de uma governança. A
necessidade do desempenho técnico dos habitantes e do surgimento dos novos
mercados e modelos estratégicos. Todos estes pontos são responsáveis pela
transformação do pensar e agir da sociedade e instituições pública e privadas.
Terceiro Painel – Cidades Inteligentes:
O terceiro painel do dia começou com
Pieter van Boheemen, holandês, Diretor da Waag Lab, apresentando o tema
“Cidadãos Inteligentes”. Pieter apresentou o resultado do workshop realizado
com brasileiros na semana anterior. Com a utilização de condutores simples como
balões a gás, brinquedos lúdicos e um pouco de ciência e tecnologia é possível
medir a qualidade da água, som e ar. Segundo ele, foi uma semana de muita
diversão e aprendizado.
Gabriela Agustini, diretora e fundadora
do Olaby Makerspace no Rio de Janeiro, defendeu a necessidade de se levar a
tecnologia para todos e da diversidade: “Além da tecnologia, temos que dar
valor à marcenaria e ao artesanato. Assim, criamos um espaço de inovação em
comunidade”, aponta. O Brasil é um país de desigualdades e precisamos, cada vez
mais, dialogar com a sociedade de forma mais simples. Ela concluiu:
“Cidade Inteligentes são aquelas feitas para todos os moradores”.
Chloe Dickson, da Suíça, e co-fundadora
do BeMap nos prova: “Pedalar é uma delícia, além de sustentável”. O dispositivo
BeMap é uma lâmpada de bicicleta com GPS de rastreamento e sensores que medem a
poluição ao longo de sua rota de ciclismo. Os ciclistas podem coletar
dados sobre seus arredores, a fim de escolher o seu caminho para trabalhar de
acordo com os valores de poluição. Esse dispositivo já vem sendo testado no Rio
de Janeiro e São Paulo.
O brasileiro Ronaldo Lemos veio
apresentar o projeto “It’s Rio”. Ronaldo aposta na democratização da tecnologia
e, assim, nas mudanças dos cidadãos. Ele aposta, para o futuro, nos contratos
inteligentes: Feitos entre as pessoas, sem envolver órgãos oficiais. E assim
vão surgindo cada vez mais movimentos livres e menos burocráticos. Criar
oportunidades para os mais pobres dialogarem mais e saberem os seus direitos. A
necessidade da abertura das portas das universidades e instituições de ensino
para a sociedade, da interatividade entre os cursos oferecidos e da troca de
inovações e ideias entre todos os setores da sociedade.
Pieter van Boheemen concluiu esta
etapa: “Ter atitude para uma boa comunicação é fundamental.
Pieter van Boheemen |
Quarto painel – Visionários:
Fabio Palma, Diretor do IED - Istituto
Europeo di Design, abriu o último painel do dia. Lembrando que, com o passar dos
tempos, os centros urbanos incharam e as pessoas começaram a se deslocar mais.
Hoje, a globalização nos permite essa interatividade: “Se hoje temos pessoas de
vários países nesta sala é graças a essa movimentação e interação”, apontou.
Por outro lado, precisamos olhar para o futuro e pensar como agir para dias
melhores.
Luisa Santiago, Diretora da Ellen
MacArthur Foundation no Brasil, aposta na economia circular para o futuro: “O
modelo econômico atual destruiu o planeta, gerando poluição e o esgotamento das
reservas naturais”. A proposta é criar uma economia restaurativa, regenerativa
e durável. Hoje, o consumo aumentou e as pessoas vivem muito mais nas cidades
do que no campo. A economia precisa funcionar de forma circular e, assim,
trazer mais oportunidades para o futuro.
Os fatores históricos podem ser
definitivos para o futuro. Washington Fajardo, presidente do Instituto do
Patrimônio Mundial Rio, mostrou o quanto é importante ser resiliente e um
cidadão inteligente hoje, mas sem esquecer-se da história: “O melhor da cidade
é a cidade que existe”, frase que sempre repete para todos. Ele contou que o
Rio de Janeiro, de alguma forma, sempre foi resiliente. Foi aqui que se
plantaram as sementes europeias no Jardim Botânico, na época do Império. Sempre
se experimentou e se inovou na cidade carioca. Entre 1928 e 1956, um grupo
pensante formado por artesãos, arquitetos e urbanistas criou um novo
planejamento urbano para o pós-guerra. Aqui, no Brasil, o movimento foi
liderado por Lúcio Costa, que planejou a nova capital, Brasília, e a Barra da
Tijuca, no Rio de Janeiro. Washington lembra que: “Manter prédios antigos é
contar a história da cidade, para isso é necessário estimular essa
preservação”. Um trabalho que faz com a prefeitura é sair pelo Centro do Rio com
secretários e, juntos, fazer o mapeamento dos problemas e soluções. A ideia é
buscar a manutenção dos locais e estabelecimentos históricos.
A energia solar é a solução da energia
limpa para o futuro? Essa é a questão que Bruno Cecchettim, chefe de inovação
da Enel Brasil, apresentou como visão do futuro. A empresa está em 30 países ,
buscando o sol como principal fonte sustentável. Projetos estão sendo testados:
carros elétricos, bicicletas elétricas que foram doados para as prefeituras e,
até, barcos elétricos. Todos, logicamente, sendo recarregados pela luz solar.
Frank Kresin retornou para apresentar
mais uma visão da Waag Society. O Hacker sempre foi visto como a pessoa que
está no mundo digital para destruir redes e roubar dados: “Hacker pode ser uma
pessoa do bem. Foram eles que criaram os computadores com o objetivo da
democratização do acesso. Idealizaram o Linux, por exemplo”, desvenda. O hacker
pode ser o meio de inteligência coletiva e uma fonte de conhecimento. Qualquer
pessoa pode se tornar um, mas, espera-se que seja para o melhor da sociedade.
Conclusão:
Construir uma sociedade resiliente
depende do envolvimento de todos os setores e, principalmente, do empoderamento
do cidadão para dar-lhe as ferramentas necessárias para participar do debate
sobre o futuro de sua cidade. Abrir caminho para a inovação e a economia
circular é dar uma chance ao planeta, oferecendo soluções conjuntas para a
eminente escassez de recursos naturais a partir da democratização do acesso à
informação. Ela pavimenta o caminho para uma sociedade participativa, com
cidadãos inteligentes, que moldam sua cidade de acordo com as necessidades
comuns.
A inspiração derivada deste seminário
deve viabilizar parcerias futuras e a participação em programas bi e
multilaterais. É fundamental manter o diálogo entre o Brasil e os países
Europeus, como a Holanda, para possibilitar um intercâmbio ininterrupto de experiências
e práticas, evitando erros já conhecidos e aprimorando práticas já
estabelecidas. Há um firme propósito da Holanda e demais países europeus
participantes do seminário em dar continuidade a esta trajetória junto com a
prefeitura do Rio de Janeiro.
Quadro Preciso & Ofereço - ideias simples para uma vida melhor |
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